Passatempo
Gosto das cadeiras assim como elas estão, brancas, na verdade esbranquiçadas, quase amareladas, com uns d
escascados de bater uma nas outras; do relógio redondo, prateado na circunferência maior, preto, na menor. Amo os potes de vidro repletos de bolachas – Maria, Maizena, Leite, recheadas com chocolate – balas, bombons, doce de mocotó cor de rosa e branco. Ah, o cheiro de mexerica na sala, inundando todos os cômodos, aquele perfume que denuncia a gente quando invadimos o quintal do vizinho. Um passatempo é abrir os armários, as gavetas com tantos utensílios e quinquilharias: bolinha de borracha, lanterna sem pilhas, linhas e agulhas, batom, lixa de unha, focinho-de-porco, miniaturas do kinder ovo, pomada para assadura, óculos quebrados, guache, contas pagas, bumerangue, folhinha de santo, ramo bento, terço de Aparecida, receita de remédio, fotos em preto e branco, coleção de bule, de xícaras de esmalte, cadernos antigos (aquela pulseirinha que ela tanto procurava e julgava perdida ou furtada!) canetas sem tinta, dinheiro sem valor, pontas de lápis de cor, folhas de papel coloridas como esta, amarelo-ouro, na qual anoto usando esferográfica vermelha meros devaneios...
