
quinta-feira, 13 de dezembro de 2007
Barulho de água (O louco do bairro)

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007
Barulho d´água (Como Deus relaxa)
segunda-feira, 10 de dezembro de 2007
Barulho d´água (Tem gato na bolsa!)
Tem gato na bolsa!
Ônibus lotado, gente que saiu para o batente bem antes de o dia raiar voltando para casa com o sol já no Japão, cansada por mais um dia de labuta. Um gato começa a miar. Espanto: um bichano dentro do busão? Os miados param, mas, segundos depois, recomeçam. Algumas gargalhadas, ah, mas esta é boa, gente: quem tem a cara-de-pau de trazer animal a bordo de ônibus? Passageiros trocam olhares recriminadores, o cobrador se encasqueta, empina o corpo vasculhando por debaixo dos bancos, dando uma de autoridade e resmungando em tom de bronca “é contra as normas da empresa e da lei transportar animais em coletivos!”. Os miados param, passam-se poucos segundos, mas xi! recomeçam outra vez, duas, três, quatro, cinco vezes, até o rapaz, sentado ao lado da moça cochilando à janela, delicadamente, tentar acordá-la: “Moça, moça, psiu, desculpe-me ai, mas acorde, oh, olha, é o gato, o gato ai dentro da tua bolsa, está miando muito, ouviu? o bichinho parece que tá no maior sufoco, querendo fazer algo da natureza dele, é melhor você dar uma espiadinha, né?” Sobressaltada, meio confusa, então, ela desperta. Notando que virara o centro das atenções e alvo de balançares de cabeça, começa a abrir a bolsa. As piadinhas e as recriminações param, dão dar lugar ao suspense à medida que o zíper vai correndo, todo mundo em silêncio, intrigado, querendo ver a cara e a cor dos pelos do bichano, o que ela fará com o felino (“e se a bolsa estiver suja?”, pensa um passageiro, já levando uma das mãos às narinas). Do interior da bolsa, no entanto, sai apenas um celular. “Alô?!”, fala a moça, após teclar alguns números e alguns segundos transcorridos. “Oi, olá, meu amor, tudo bem? Estou no ônibus a caminho de casa, desculpe-me, tirei um cochilo e não ouvi quando você chamou!”
domingo, 9 de dezembro de 2007
Barulho d´água (Um lugar)
fazendo ao redor para a casinha.
Os canteiros, o gosto de framboesa,
tudo o mais que houvesse por perto,
apenas tornariam o sonho mais aprazível.
Poema-diálogo baseado em Motivo, de Cecília Meirelles, e em Canteiros, que Fagner gravou em música, também inspirado na obra da poetisa.
Barulho d´água (Aguaceiro)
O céu estava claro, estrelas começavam a luzir por todos os lados, a lua despontava, brilhante, quando, de repente, desabou um toró daqueles. Ô Deus nos acuda, pegou todo mundo de calças curtas, sô! Aeroportos foram fechados, aviões que estavam no ar pousaram onde deu, quem não perdeu as últimas pipas que ainda estavam no ar levou para casa papel, linha e taquara ensopa

Barulho d´água (Bambino)
No berçário, chorou ao me ver: identificou-se comigo de cara. A primeira fralda suja, ma chè onore, coube a mim trocá-la!O primo som que balbuciou foi pa, é vero! A primeira palavra? Ora, caspita: padre, logoco! Ainda no colo, batia as palminhas quando escutava Funiculí Funiculá. Deu o primeiro passo segurando em minhas mãos. O primeiro tombo de biciclete não podia ter sido com outro. A primeira ida dele ao mato foi io que presenciei. Como bom figlio e nipote de oriundi adora lasanha e pizza marguerita. Me acompanha todo ano à festa de Nossa Senhora Acchiropita, não perde sequer um capítulo de Terra Nostra, e até já passeou comigo pela nostra cara terra. É. Ele é um bambino que me deixaria super orgoglioso não fosse por um detalhe: o maledetto, santo Dio, Madonna mia, é curintiano!
Barulho d´água (A fantasia de cada dia)
Barulho d´água (Teimosia)
Teimosia
que bom ter nada para fazer
ficar sentado ao sol lendo poesia
vendo jorginho correr no campo de peladas
admirar o caderno de jéssica –
que bela letrinha tem esta danada!
ou ver o timinho de osasco treinar
enquanto o limão se oferece no pé
o relógio porém logo apita
e já é hora de se aprontar
dar tchau para os bem-te-vis
fazer o nó da gravata
tomar mais um gole de café
a benção mãe até loguin’amor
entrar no carro
como sempre o trânsito é lento
hoje não tenho trocado menino
vá você pra ver se é bom barbeiro
abrir gavetas ligar o pc e como sempre
todo dia das dez às dezoito
trabalhar trampar ralar
mas não faz mal não sanguibom
encare tudo numa boa
e amanhã mesmo que chova
sente-se de novo ao sol
e se possível de quebra
componha algum haikai
Barulho d´água (Gesus ou Jenésio?)
Dia desses, na feira-livre lá do bairro, à medida que ia pendurando no varal sobre as pilhas individuais de alimentos o cartaz com os preços daquele dia, um dos funcionários da barraca ia dizendo o nome de cada um deles, enfatizando sempre as letras que poderiam gerar dúvidas e outras características, como por exemplo, “jiló, com jóta!”, conforme exclamou. O item seguinte foi o chuchu, “com dois cêágas”, e assim sucessivamente, passando pela vagem, “com gê, de gato”, cenoura, “com cê de coelho, que é quem mais gosta delas”, e quiabo, “com quê e muita baba”. Fiquei prestando atenção no jeito bem-humorado do rapaz, achando um barato como ele recorria à criatividade para mencionar, corretamente, o nome de cada tipo de alimento à venda cuja grafia pudesse – e costuma -- gerar algum tipo de confusão devido às semelhanças entre sons de letras diferentes. Percebi que depois do quiabo viria outra delícia do dia-a-dia que também faz as pessoas trocarem Gesus por Jenésio. Fiquei esperando para conferir como ele iria se pronunciar, se acaso também não tropeçaria, como pode ocorrer com quem não tem tanta intimidade com a língua, o que não parecia ser o caso dele. “Barriga preta, que lá em casa, para emagrecer, vira até chá, com cêága!" falou. “O quê, como assim?” protestei no ato, zombeteiro: “Vai me dizer que desta vez você não sabe se é com gê ou com jóta que se pronuncia o nome desta comida ai, hein?" O camarada não perdeu a pose. Demonstrando que sabia, estava só sacaneando, emendou, sem deixar a peteca cair: “Sei sim, senhor, qual a letra aparece no meio do verdadeiro nome da barriga preta aqui, que por sinal, fica uma delícia servida à milanesa, mas milanesa com ésse de suflê, e não zê de zoeira como estou fazendo, mas que muita dona de casa que passa por aqui pensa que é!" . "Tá certo, tudo bem, nesta você me pegou, parabéns, colega, fazer feira assim é bem mais divertido", devolvi, já saindo. "Sempre às ordens, e precisando de algo, é só me procurar, sou o Genésio", completou, estendendo-me a mão. "Mas como meu nome sempre dá muita confusão, pode me tratar pelo sobrenome mesmo, viu, anota ai, este não tem como ninguém errar: é Jesus!"
Três ou mais linhas de prosa... e de poesia
O velho lago
mergulha a rã--
barulho d´água.
Este blog, cujo nome deriva do haicai de Matsuo Bashô, tem por objetivo a divulgação de crônicas e outros gêneros literários de minha autoria -- consulte também http://www.poesiafeitaemcasa.blogspot.com e http://www.karumi.nafoto.net, outros trabalhos que assino. A cópia e reprodução dos elementos aqui contidos sem a devida autorização, por escrito, e sem estarem negociados direitos autorais e outras questões comerciais, sujeitarão o infrator a entendimentos com a lei.
Marcelino Lima
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