
(Para Vivian Avellar)
Em uma das mãos abrigava um tigre, na outra, uma andorinha. Fechou-as, cruzou-as sobre os punhos, propôs um jogo à amiga: escolhe andorinha ou tigre? Ela escolheu o felino. Ao ser aberta a mão direita, no semblante dela se desenhou uma ponta de decepção. “Você pode não estar vendo o tigre por que ele tem algumas listras no dorso não muito bem definidas, mas poderá contemplá-lo por outro ângulo”, disse o rapaz. “Note que os olhos têm o brilho de mil tochas acesas, e, coragem, pode tocá-lo, acaricie-o e sentirás que o pelo dele tem a suavidade da mais nobre seda oriental”, prosseguiu. “Este animal é especial, faz parte de uma espécie já quase extinta, que tem hábitos solitários e costuma habitar as escarpas geladas do Himalaia. Os aldeões, inclusive, atribuem ao gato poderes. Agora mesmo, por exemplo, é possível que esteja invisível para que não seja incomodado e possa manter-se em sua quietude habitual, meditando. Ou, como também tem a agilidade das panteras, mais a leveza das andorinhas, pode simplesmente ter batido asas e voado para o pé da montanha.” Ela balançou a cabeça levemente, sorriu ligeiramente, concordou por diplomacia. Mais tarde, saindo à varanda, encontrou pegadas de um grande animal e flocos de neve. No beiral uma andorinha contemplava o sol caindo no horizonte...