O menino não só acredita em dragões: cria um, debaixo da cama! Bem tratado, Espada está cada vez mais roliço. Também, pudera: até iogurte de chocolate entra no cardápio do bicho! Mas em casa ninguém sabe que Espada existe, embora seja um sufoco para escondê-lo cada vez que a mãe do garoto varre o quarto. O segredo é compartilhado apenas com Roxinho, bichano de olhos avioletados que não gosta muito da criatura, da qual já levou alguns tapas e algumas baforadas mais quentes, descontadas com unhadas e mordidas no rabo pontiagudo do adversário com quem vive às turras, como gato e dragão. O pai do guri é quem anda com a pulga atrás da orelha, desconfiando de algo desd
e que passou o filho pela pediatra -- recorrera à doutora intrigado com o fato de as guloseimas evaporarem da geladeira, mas o guri continuar sequinho, um fiapo, quase um filé de bacon. Exames de fezes e de urina (que ela pedira por desencargo de consciência, apenas) nada indicaram, estava tudo nos trinques. A médica, por sinal, antes mesmo de receber os resultados do laboratório, havia notado o quanto, além de saudável, o pequeno paciente irradiava felicidade, soltando vida pelas ventas, nadando de braçadas na fantasia. Experiente, acabou sacando sobre Espada trocando idéias a sós com o piá, razão pela qual resolveu prescrever a receita, inédita, entregue ao pai assim que este pode retornar ao consultório. De forma caprichada, longe de parecer aqueles estranhos sinais que a turma dos aventais brancos chama de letra, não indicou vitaminas, fortificantes, nada, nada disso. Pediu somente que o menino pudesse continuar a ser criança, brincando muito e realizando tudo o que imaginasse. Mesmo que fosse preciso reforçar o estoque de iogurtes, trocar algum móvel ou objeto da casa que aparecessem chamuscados, ou levar Roxinho para o veterinário curar uma queimadurinha à toa...

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