Tempo de manacás
Era época de manacás, de novidades, e na Rua Carmem, as flores enchiam os galhos. Também era bonito o espetáculo dos piscas-piscas iluminando a barroca, vistos lá longe, da janela. Parece-me que havia musica no ar, não tenho certeza. Em mim, tocavam as três etapas do Concerto Grosso Opus 3/8. O clima era de festa: era tempo de celebrar o nascimento de Jesus-menino, com a Estrela de Belém brilhando bem em cima de casa!
(Era mesmo tempo de fatos novos, pois lá estava a Lusa na final do Brasileiro, ora pois, pois...)

Como demorava a espera: o pouco que faltava parecia eterno, e, ansioso, eu revirava a mente em busca de cantigas de ninar: “Quando o sol banhar o dia/arvoredo sombrear...”
Hoje, na penumbra da sala, a luz dos automóveis transpassando pelas capelinhas nos toca quando ambos já estamos com os colarinhos molhados pela troca de calor – nosso primeiro gesto de cumplicidade, como um violino e seu arco; na ponta dos dedos, há a viscosidade dos teus dourados cabelos também suados: “Estrada de terra, beira de riacho...”
(Percebo: teus suspiros estão mais espaçados e serenos.)
Cumpri a missão, penso: você, agora, dorme, estou saciado, sinto minha vida correndo pela espinha, e, novamente, sinfonias, agora, também no ar: será o allegro moderato do Concerto a cinque de Albinoni, ou o presto do concerto in g maggiore per achi e cembalo, de Vivaldi?
Homenagem ao meu filho, Jorge Henrique, que em 21 de dezembro chegará aos 11 anos
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