Fumaça e a lua
À janela, pôs se estridentemente a miar para a lua. E olha que o satélite nosso de cada dia sequer estava na fase cheia, antes: minguava, talvez por isso o melancólico protesto do bichano. E pensar que até o gato subir naquele parapeito confabular com a lua fosse apenas digno de lobos e de cães! Ou de poetas, de seresteiros, de bêbados, de boêmios, de chapados e, lógico de crianças, estas sempre puras, achando que ela não abre nem sob tortura os segredinhos que ouve, e não os conta para ninguém... a não ser para todos os corpos celestes que povoam até a mais nebulosa das galáxias! Mas como eles não pronunciam palavra, e ninguém entende porque tanto eles brilham, tudo acaba diluído no Cosmos... Ah, sim, e como se esquecer dos velhotes? Eles também tricotam com a lua, sobretudo, os solitários. Uns até gostam de pedir a ela que cante alguma canção, se possível, na voz de Bing Crosby, e ela, gentil, atende entoando I still love to kiss you goodnight/The thrill of you holding me tight...
Se alguém duvidar que tais colóquios ocorrem, faça lá uma visitinha à casa do Altamiro, ora, pois, pois. Como sugestão, ofereça antes uma garrafa de bom vinho do Porto, bolinhos de bacalhau e, se possível, leve notícias satisfatórias do Vitória de Setúbal. Alegremente, ele dividirá o destilado com a moça, como o fazia Li Po, ainda que passe a desconfiar após o terceiro cálice que ela seja fã do outroVitória, o de Guimarães. Hum, também será bom providenciar para o Fumaça uma sardinha, ou filé de pescada, do contrário, só o cão vai querer prosear com a amiga de todas as noites.
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