
Assisti pela primeira vez televisão em cores sentado sobre malas, aguardando as Casas Pernambucanas anunciarem a partida do ônibus com destino a Juiz de Fora. Meus olhos depararam-se com a maravilha num daqueles monitores colocados em pontos estratégicos da antiga rodoviária Júlio Prestes, provocando-me um conjunto de arrepios que só perderam em intensidade para os que experimentaria algum tempo depois ao descobrir o quanto é bom ter meninas brincando com a gente de esconde-esconde. Rolava um vídeo-tape de Santos e Portuguesa. Pelé ainda jogava pelo Peixe, vestindo como os companheiros um uniforme que refulgia de tão branco, aproximando o manto santista do celeste tom da camisa do Zecão, o arqueiro da Lusa. De tão nítidas, as imagens davam-me a impressão de que o jogo estaria acontecendo ao vivo, era como se eu estivesse em carne e osso presente nas arquibancadas do Pacaembu vendo a bola passear por um impecável tapete verde. Duro foi embarcar. Quando a hora chegou, faltou pouco para meu pai me arrastar pela mão e me levar a bordo - esforço inútil, pois nem sentado desviei o magnetizado olhar da tela, a qual segui observando pela janela de uma poltrona que sequer era a minha. Ainda deu tempo de ver um gol do Enéas, com o ônibus já em movimento. Viajávamos sempre à noite, ocasiões nas quais eu procurava me manter acordado até ver a Basílica. A enorme igreja, um dos pontos da paisagem que sempre me fascinou, naqueles tempos já estava com o contorno iluminado, mas naquele dia, passou batida. E não dormi um segundo sequer. Cheguei a recolher os toldos, é verdade. Mas foi só para ficar repassando na mente durante 520 quilômetros tudo o que eu vira antes de partir...
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