Meu caro José Rocha
Meu caro José Rocha: se eu contasse para você que meu gato preto e branco toma água na torneira (que ele mesmo abre!), mija na privada, briga com a própria imagem no espelho, abre a porta da cozinha para a varanda pisando no trinco e apoiando-se no balcão de mármore ao lado do fogão, invade gavetas e armários para tirar um cochilo dentro delas, pega pássaros no ar saltando pelo menos 1 metro a partir do chão, e que para fazer jus ao pelame é corintiano, você acreditaria em mim? E se eu dissesse que já tive outro anterior ao Portuga (tente adivinhar o porquê do nome dele!), da mesma cor, portanto igualmente alvinegro, que adorava “Ana Karenina”, do Tolstoi? E uma fêmea cuja maior alegria era roubar o bife fritando da frigideira e depois ir tirar uma pestana no lavatório, você ainda assim me daria crédito?
--- --- --- --- --- --- --- --- ---
José Rocha é poeta, autor entre outros livros de "O verbo para quem sofre de verborragia" no qual também tem um poema que fala sobre as peripécias do gato dele, das mesmas cores do Portuga.