Trégua
Em um dos tubos que sustentam o alambrado, gorjeia o pequeno pássaro. Penso que ele estaria chamando a família para todos se deliciarem com a água fresca e adocicada por néctar com a qual acabara de abastecer a garrafinha deles. Mas, não. A tarde está escoando em tons avermelhados, e o sol preparando-se para acordar os japoneses, perfeitamente redondo e enorme, lá, no morro, onde daqui a pouco terá completamente desaparecido. A ave, de frente para a imensa laranja, canta, na verdade, em reverência ao poente. E com tanto entusiasmo que até os gatos, que a esta hora gostam de toscanejar na varanda até que a noite assuma, parecem se esquecer, ou pelo menos fingem, que são felinos e implacáveis caçadores sempre famintos...
Marcelino Lima, 8 de novembro, 19h23