Haicailinhas 2 (atualização em 2 de setembro de 2012)
Um dia destes comecei a buscar em caixas, gavetas e cedês fotos antigas para enriquecer meu álbum digital e, entre elas, resgatei também alguns textos e poemas, enre eles haicais, ou tercetos em forma de haicais. Nesta nova retranca para a série Haicailinhas estão alguns.
Marcelino Lima
Carro do queijo/para provar não paga./E pode ser com doce.
Toca nove vezes/O sino da capelinha --/O trem responde três.
Na
quarta volta/já são três sapos cantando/na segunda curva.
Manhã
de outono –/há três dias no varal,/o tênis pingando água...
Casa
branca,/batentes azuis./À porta, marimbondos!
Casinha
na periferia,/cana em ponto de corte/gatos no quintal...
Andorinha,
andorinha:/mesmo não sendo feriado/vou passear à toa!
Em
toda a casa,/só a cama dessarumada--/gatinha nas cobertas.
Ao
colo do pintor,/o gato segue com os olhos/o vaivém do pincel.
Tarde
de verão --/entre o voo de dois pardais,/ecoa um trovão.
Tarde
chuvosa --/aos trovões misturam-se/sons de uma serraria.
Tarde chuvosa --/na rodovia, lá longe,/acendem-se as luminárias
Caixote de peras/com alguns cortes e tintas/casinha de tuim
Em papel rosado/prediz um novo amor/a ave do realejo
De varal em varal/o cambacica vai pulando/até chegar ao néctar.
De cordão invísivel,/e pingente de estrela,/O colar da lua...
Sopa de estrelas--/cortado como a lua,/O pão que acompanha.
Uma folha cai--/à luz do sol, amarela,/quando gira, verde..
Vão aonde eu vou/não contam nada a ninguém--/ah, meus sapatos...
Meu velho sapato--/ainda guarda segredos/e não erra caminhos.
Em sonho, voo/ e, nos fios elétricos,/brotam cerejeiras.
Bem-me-quer, mal-me-quer.../o vento desfaz a nuvem/em forma de flor.
Como podes, gato,/divertir-se tanto assim/com um bago de uvas?
Clarão ao longe/leve batuque na janela--/ai vem chuva boa!
Grandes, amarelas./As pinhas da minha infância/não têm similares.
Rosa lá em cima./Lá embaixo, a molecada/esperando pinhas.
Quarenta caroços/e ainda está intacta/metade da pinha.
Buraco na parede,/ passa o ar, passa a luz .../...ai, ai de mim, menina!
Chuva violenta,/entre galhos e fios caídos,/salvou-se a violeta.
Noite de geada —/recados de namorados/no vidro do carro.
Sol de inverno--/Uma calçada repleta,/outra vazia.
Passeio de férias –/Caminho nas ruas da infância/agora de sapatos.
Tudo fica quentinho/onde ela se deita --/gata do Jorginho.
Ah, que viagem! --/ao descascar a laranja,/várias voltas ao mundo.
Estrelas e luas –/a noite, bem quentinhas,/num prato de sopa.
Kombi da pamonha –/tudo quieto, de repente,/no prédio em obras.
Mangueira frondosa --/com seus uis e ais,/prima maravilhosa!
Chuva passageira--/flores de jacarandá/no dorso do cavalo.
Até meu destino/ainda tem muito chão/ -- Ah, pé de goiaba!
Troca na cidade --/leva milho, traz café,/o carro de boi.
Os donos nem saíram,/mas os gatos já subiram --/e dormem na mesa!
Domingo de sol,/toda a família no gramado--/bando de pássaros pretos.
Na fonte da praça,/um mergulho, um voo curto.../bem-te-vi toma banho!
Chuva a caminho./Mesmo apertando os passos,/o vira-lata atrás.