domingo, 22 de julho de 2012


Haicailinhas 2 (atualização em 2 de setembro de 2012)

Um dia destes comecei a buscar em caixas, gavetas e cedês fotos antigas para enriquecer meu álbum digital e, entre elas, resgatei também alguns textos e poemas, enre eles haicais, ou tercetos em forma de haicais. Nesta nova retranca para a série Haicailinhas estão alguns.

Marcelino Lima
 
Carro do queijo/para provar não paga./E pode ser com doce.
Toca nove vezes/O sino da capelinha --/O trem responde três.
Na quarta volta/já são três sapos cantando/na segunda curva.
Manhã de outono –/há três dias no varal,/o tênis pingando água...
Casa branca,/batentes azuis./À porta, marimbondos!
Casinha na periferia,/cana em ponto de corte/gatos no quintal...
Andorinha, andorinha:/mesmo não sendo feriado/vou passear à toa!
Em toda a casa,/só a cama dessarumada--/gatinha nas cobertas.
Ao colo do pintor,/o gato segue com os olhos/o vaivém do pincel.
Tarde de verão --/entre o voo de dois pardais,/ecoa um trovão.
Tarde chuvosa --/aos trovões misturam-se/sons de uma serraria.
Tarde chuvosa --/na rodovia, lá longe,/acendem-se as luminárias
Caixote de peras/com alguns cortes e tintas/casinha de tuim 
Em papel rosado/prediz um novo amor/a ave do realejo
De varal em varal/o cambacica vai pulando/até chegar ao néctar.
De cordão invísivel,/e pingente de estrela,/O colar da lua...
Sopa de estrelas--/cortado como a lua,/O pão que acompanha.
Uma folha cai--/à luz do sol, amarela,/quando gira, verde..
Vão aonde eu vou/não contam nada a ninguém--/ah, meus sapatos...
Meu velho sapato--/ainda guarda segredos/e não erra caminhos.
Em sonho, voo/ e, nos fios elétricos,/brotam cerejeiras.
Bem-me-quer, mal-me-quer.../o vento desfaz a nuvem/em forma de flor.
Como podes, gato,/divertir-se tanto assim/com um bago de uvas?
Clarão ao longe/leve batuque na janela--/ai vem chuva boa!
Grandes, amarelas./As pinhas da minha infância/não têm similares.
Rosa lá em cima./Lá embaixo, a molecada/esperando pinhas.
Quarenta caroços/e ainda está intacta/metade da pinha.
Buraco na parede,/ passa o ar, passa a luz .../...ai, ai de mim, menina!
Chuva violenta,/entre galhos e fios caídos,/salvou-se a violeta.
Noite de geada —/recados de namorados/no vidro do carro.
Sol de inverno--/Uma calçada repleta,/outra vazia.
Passeio de férias –/Caminho nas ruas da infância/agora de sapatos.
Tudo fica quentinho/onde ela se deita --/gata do Jorginho.
Ah, que viagem! --/ao descascar a laranja,/várias voltas ao mundo.
Estrelas e luas –/a noite, bem quentinhas,/num prato de sopa.
Kombi da pamonha –/tudo quieto, de repente,/no prédio em obras.
Mangueira frondosa --/com seus uis e ais,/prima maravilhosa!
Chuva passageira--/flores de jacarandá/no dorso do cavalo.
Até meu destino/ainda tem muito chão/ -- Ah, pé de goiaba!
Troca na cidade --/leva milho, traz café,/o carro de boi.
Os donos nem saíram,/mas os gatos já subiram --/e dormem na mesa!
Domingo de sol,/toda a família no gramado--/bando de pássaros pretos.
Na fonte da praça,/um mergulho, um voo curto.../bem-te-vi toma banho!
Chuva a caminho./Mesmo apertando os passos,/o vira-lata atrás.

Três ou mais linhas de prosa... e de poesia


O velho lago
mergulha a rã--
barulho d´água.

Este blog, cujo nome deriva do haicai de Matsuo Bashô, tem por objetivo a divulgação de crônicas e outros gêneros literários de minha autoria -- consulte também
http://www.poesiafeitaemcasa.blogspot.com e http://www.karumi.nafoto.net, outros trabalhos que assino. A cópia e reprodução dos elementos aqui contidos sem a devida autorização, por escrito, e sem estarem negociados direitos autorais e outras questões comerciais, sujeitarão o infrator a entendimentos com a lei.

Marcelino Lima



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