Mão de bêbado...
Depois de mais um dia abafado, a
tarde refresca finda a pancada de chuva típica de verão. O sol volta entre
nuvens e mais brando, uma suave brisa sopra, convites irrecusáveis para um rolê
de bicicleta. Aceito a dica, saio a pedalar. Em determinado ponto do trajeto, cruzo
com um boteco conhecido por, a qualquer hora, juntar em seu interior e no
passeio ao redor tantos vira-latas largados bocejando ou a se coçarem, quanto
homens embriagados. Um dos manguaças, sentado em uma cadeira encostada à
parede, mergulhado nos braços de Morfeu. De tão trincado, neste sono olímpico o
infeliz ronca e baba, não sente a mosca que excursiona pela cara inchada e avermelhada,
tão pouco percebe a dona da birosca a pintar as unhas dele com esmalte verde. Os
amigos de garrafa a incentivam, gargalham alto -- um dos cachorros até rosna
assustado pela caçoada, entrementes o ébrio nem pisca: prossegue mais apagado
que estrela cujo brilho acabou cortado por não ter pagado à concessionária a
conta de luz. Chego a considerar como “sacanagem” a zoeira com o biriteiro, mas
acabo rindo, também. E constato por qual motivo: acabara de descobrir o
significado da expressão popular “mão de bêbado não tem dono”.
(Ainda durante o giro com a
magrela observo: virou moda utilizar a palavra “combo” para tentar empurrar mercadorias
ou serviços oferecidos à clientela em “pacotes”. Utilizar bandejas de isopor
para servir milho verde cozido, devidamente desemsabugado pelo marreteiro, é
outra mania que se vê em qualquer esquina. Alguns ambulantes, mais higiênicos,
chegam ao requinte de usar luvas descartáveis...)
Tamanho não é documento
Em outro ponto do percurso feito sobre
as duas rodas encontro matilha mais ativa de cães acompanhando uma donzela no
cio. Destaca-se entre os totós um de porte pequeno, algo mais que um chihuahua cujo corpo
não alcança a metade do comprimento das pernas da fêmea. Apesar da menor estatura,
o animal marcha confiante, ignorando os olhares ferozes e os dentes expostos
dos maiores. Isto sim é levar a sério o ditado “tamanho não é documento”, agir
seguro como quem se julga a altura de um grande conquistador!
Dois haicais
Torre de alta tensão./Do lado de cá da cerca,/jardim de
cosmos.
Restos de feira-livre --/Com a cabeça de um
peixe,/um gato cruza a rua.