Flores
Dá
um trabalhão manter flores à janela. É preciso tirá-las do alcance dos sóis
inclementes, ou dos frios minuanos, pô-las à sombra ou sob uma lâmpada,
devidamente arejada e a salvo de pragas. É quase um ritual sexual, cultivo e a
curtição de uma paixão. Como apreciam também as estrelas, os luares e a brisa noturna,
são sensíveis e até mesmo caprichosas, no momento em que os pássaros se
recolhem ao crepúsculo deve-se devolvê-las aos lugares de antes nas floreiras –
que, a cada dois meses, reclamam uma nova demão de tinta amarela.
A
tarefa compensa. As flores, com o tempo, ganham viço e mais tempo de vida. O jardineiro
perde um pouco do estresse. Os cômodos passam a ter outros aromas, tão bons
quanto os dos lustra-móveis dos limpadores de pisos que rescendem, evolam do
lar aos sábados. O gato também fica mais alegre e caseiro, espiando, ora imóvel,
ora inquieto, tentando saltar ao parapeito. Não é à toa: há sempre uma
borboleta na área, quando não voando por perto, levemente balançando as asas,
pousada na coroa de um crisântemo, de uma margarida...