Quando Rosa faz pães
Quando Rosa faz pães, toda a casa fica em festa,
mergulhada num ambiente que libera no ar
a expectativa de momentos inesquecíveis.
Sussurrando, já de avental à cintura,
informa-me assim que chego ao portão:
-- Hoje temos encomenda da padaria, tesouro!
Junto ao tablado da cozinha,
fico a espiar o vai-e-vem das ancas dela,
enquanto, meticulosa, ela mistura os ingredientes numa grande bacia,
e a massa, espichada, vai tomando as mais variadas formas.
Depois, olhares em silêncio, untamos as formas,
sem ligar para o excesso de manteiga que possa restar
aderido ao vão dos dedos --
afinal, ao final do trabalho, serão carinhosamente lambidos.
Por fim, com o forno já devidamente aquecido,
livrando-se do avental, anuncia:
comeremos, juntinhos, o primeiro que assar.
Na manhã seguinte, olhando a vitrine da padaria,
por alguns minutos namoro cada um dos pães,
fico me lembrando de tudo o que rolou enquanto assavam.
-- Este é dos bons, bendita é a mão que o prepara,
chega um freguês e diz, com indisfarçável gula.
Realizado com os elogios, saio fazendo figa,
torcendo para aquela fornada logo acabar,
rezando para que, ao final do dia,
ela novamente anuncie junto ao portão:
-- Amor, temos outra encomenda!
*Poema vencedor do 2º Festival de Poesia de Osasco promovido pelo grupo Rabo de Kalango