Mandinga
Era um dia daqueles em que nada dá certo e resolveu ir até a encruzilhada para verificar se lá não haveria algum despacho preparado contra ele. E se houvesse a mandinga deveria ser das mais fortes, pois, já antes de sair de casa, o vidro de perfume, francês e legítimo, escapou-lhe das mãos e ploft!, espatifou-se no banheiro! Antes do almoço, no trabalho, o micro só travava, amarrando o expediente, que, ah, justamente às quintas-feiras, costuma ser ainda mais puxado. À hora da refeição, a gota d’água: o jiló, cozido na véspera pela esposa, azedara. Decidido, após engolir tudo às pressas, pegou o automóvel. Só para ir esgrimiu contra 13 quilômetros de caótico trânsito, 31 graus, sem direito ao mínimo bafejo, indicado em um enorme termômetro digital que fazia propaganda de banco. Mas estava resoluto para alcançar a encruza, lá dar uma bicuda de esquerda (conforme rezam as orientações contra macumbas), chutar sem dó o maldito ebó e, depois, sossegado, curtir uma tarde mais agradável, sem surpresas ou aporrinhações. Ainda bem antes de chegar ao local pretendido, entretanto, deparou-se com a placa “Obras, desvio!”. De novo grunhiu impropérios, agora dirigidos à mãe de alguém, mas parou ali mesmo e prosseguiu a pé. Alcançando, enfim, a encruzilhada, no local constatou: ao invés de galinha preta, velha vermelha, a foto dele dentro da boca amarrada do sapo, ou sortilégios de qualquer corrente maligna arrebentava em flor um ipê rosa! Ergueu as mãos para o céu, benzeu-se. Desfeita a cisma, beijou demoradamente a árvore e pensou até em se aliviar à sombra dela já que a comida mal mastigada pesava-lhe no estômago, o que só não fez porque julgou que seria uma heresia.
Pegou o caminho de volta até o carro, aliviado, embora seguisse lamentando ter deixado dentro do veiculo óculos contra sol e boné que o protegeriam daquele calor infernal de começo de novembro. Chegou meia hora depois ao automóvel, empapado de suor, com sede, mas dava graças a Deus por nada existir contra ele na encruzilhada. Para aumentar a própria felicidade, acabara de mijar, olimpicamente. Deu a partida para voltar à vaca fria assobiando os chorinhos que tocavam a bordo e sequer notou, repousando no parabrisa, o papel amarelo, cinco pontos na carteira de habilitação por ter estacionado atabalhoadamente em local proibido, quando, irritado, apeara do carro na altura do desvio.
Era um dia daqueles em que nada dá certo e resolveu ir até a encruzilhada para verificar se lá não haveria algum despacho preparado contra ele. E se houvesse a mandinga deveria ser das mais fortes, pois, já antes de sair de casa, o vidro de perfume, francês e legítimo, escapou-lhe das mãos e ploft!, espatifou-se no banheiro! Antes do almoço, no trabalho, o micro só travava, amarrando o expediente, que, ah, justamente às quintas-feiras, costuma ser ainda mais puxado. À hora da refeição, a gota d’água: o jiló, cozido na véspera pela esposa, azedara. Decidido, após engolir tudo às pressas, pegou o automóvel. Só para ir esgrimiu contra 13 quilômetros de caótico trânsito, 31 graus, sem direito ao mínimo bafejo, indicado em um enorme termômetro digital que fazia propaganda de banco. Mas estava resoluto para alcançar a encruza, lá dar uma bicuda de esquerda (conforme rezam as orientações contra macumbas), chutar sem dó o maldito ebó e, depois, sossegado, curtir uma tarde mais agradável, sem surpresas ou aporrinhações. Ainda bem antes de chegar ao local pretendido, entretanto, deparou-se com a placa “Obras, desvio!”. De novo grunhiu impropérios, agora dirigidos à mãe de alguém, mas parou ali mesmo e prosseguiu a pé. Alcançando, enfim, a encruzilhada, no local constatou: ao invés de galinha preta, velha vermelha, a foto dele dentro da boca amarrada do sapo, ou sortilégios de qualquer corrente maligna arrebentava em flor um ipê rosa! Ergueu as mãos para o céu, benzeu-se. Desfeita a cisma, beijou demoradamente a árvore e pensou até em se aliviar à sombra dela já que a comida mal mastigada pesava-lhe no estômago, o que só não fez porque julgou que seria uma heresia.
Pegou o caminho de volta até o carro, aliviado, embora seguisse lamentando ter deixado dentro do veiculo óculos contra sol e boné que o protegeriam daquele calor infernal de começo de novembro. Chegou meia hora depois ao automóvel, empapado de suor, com sede, mas dava graças a Deus por nada existir contra ele na encruzilhada. Para aumentar a própria felicidade, acabara de mijar, olimpicamente. Deu a partida para voltar à vaca fria assobiando os chorinhos que tocavam a bordo e sequer notou, repousando no parabrisa, o papel amarelo, cinco pontos na carteira de habilitação por ter estacionado atabalhoadamente em local proibido, quando, irritado, apeara do carro na altura do desvio.
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