domingo, 24 de fevereiro de 2013

Barulho d'água (Flores)


Flores
Dá um trabalhão manter flores à janela. É preciso tirá-las do alcance dos sóis inclementes, ou dos frios minuanos, pô-las à sombra ou sob uma lâmpada, devidamente arejada e a salvo de pragas. É quase um ritual sexual, cultivo e a curtição de uma paixão. Como apreciam também as estrelas, os luares e a brisa noturna, são sensíveis e até mesmo caprichosas, no momento em que os pássaros se recolhem ao crepúsculo deve-se devolvê-las aos lugares de antes nas floreiras – que, a cada dois meses, reclamam uma nova demão de tinta amarela.
A tarefa compensa. As flores, com o tempo, ganham viço e mais tempo de vida. O jardineiro perde um pouco do estresse. Os cômodos passam a ter outros aromas, tão bons quanto os dos lustra-móveis dos limpadores de pisos que rescendem, evolam do lar aos sábados. O gato também fica mais alegre e caseiro, espiando, ora imóvel, ora inquieto, tentando saltar ao parapeito. Não é à toa: há sempre uma borboleta na área, quando não voando por perto, levemente balançando as asas, pousada na coroa de um crisântemo, de uma margarida...

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Três ou mais linhas de prosa... e de poesia


O velho lago
mergulha a rã--
barulho d´água.

Este blog, cujo nome deriva do haicai de Matsuo Bashô, tem por objetivo a divulgação de crônicas e outros gêneros literários de minha autoria -- consulte também
http://www.poesiafeitaemcasa.blogspot.com e http://www.karumi.nafoto.net, outros trabalhos que assino. A cópia e reprodução dos elementos aqui contidos sem a devida autorização, por escrito, e sem estarem negociados direitos autorais e outras questões comerciais, sujeitarão o infrator a entendimentos com a lei.

Marcelino Lima



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