Convicção
A cabeçada saiu como manda o
figurino, de acordo com a cartilha do bom 9. Havia antevido aonde a bola
chegaria, e, sem que o marcador percebe-se, disparou feito flecha, subiu com
estilo. A ficha do arqueiro, estático, só caiu quando o estrondo grito ecoou
das arquibancadas. Sempre concluía jogadas como aquelas com maestria, infalível.
Ainda mais quando o centro provinha do pé de Nei Teixeira, o maior companheiro
do atual time; não precisavam de nenhum sinal a mais do que uma troca de
olhares que, combinados treino após treino, já sabiam de cor o que diziam.
Depois, justiça seja feita: perto do alambrado pedia ao amigo a chuteira sobre
o joelho direito, engraxava-a, gesto de reconhecimento, de humildade do rei devotado
àquele que o assistia e o ajudava a alimentar a majestade, a fama, a súbita
riqueza. Com mais aquele na conta, o terceiro no tradicional clássico,
isolava-se ainda mais na artilharia da temporada: ninguém avistava no
retrovisor há sete rodadas, a vantagem crescia domingo após domingo um, dois,
três, quatro, agora, oito.
Ao
fim da porfia, a gentil troca de camisas com o joão que em vão tentou
contê-lo. Respeito a o adversário derrotado, aperto de mão, abraço cordial,
votos de boa sorte em outra ocasião. Torcida em festa, de todos os setores do
estádio o nome dele saia de milhares de bocas, em uníssono, mantra entoado pela
totalidade dos fãs. Um bloco de repórteres à entrada do túnel, ávidos, câmeras,
microfones, holofotes. (O craque soubera antes de a bela rolar: o técnico encarregado
de convocar o grupo da seleção para a Copa do Mundo, na manhã seguinte, estava presente
nas tribunas.) Chega até os jornalistas, respira, limpa mais uma vez o suor que
escorria da testa. Sem pressa, simpático, vai explicando enquanto caminha rumo
ao vestiário que a vitória é do grupo, todos seguiram as orientações do
treinador, focaram no jogo, que prefere ser campeão a ganhar a “Bola de Ouro”,
que apenas ouvira comentários sobre a suposta transferência para a Europa na
janela de agosto, não, não havia proposta alguma, apenas meros boatos. Também sem
demonstrar empáfia, apenas a confiança de quem sabe o quanto é decisivo,
imprescindível, insuperável naquele momento em que o país já está mergulhado no
clima, anseia por mais uma glória internacional, devolve a pergunta,
sorridente, antes de arrematar: “Se acredito que estarei na lista amanhã? Sim,
conto com a minha convocação! E podem escrever e gravar: o caneco voltará ser
nosso!”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário