Domingo perfeito
Assistir às apresentações do XI de Junho
onde, atualmente, encontra-se instalado o Centro de Treinamentos do Grêmio
Esportivo Osasco, no jardim Cipava, na zona Sul da cidade, era um dos meus programas
prediletos no final dos anos 1970, começo da década seguinte. Chamados por
“segundo e primeiro quadros”, os dois times amadores reuniram vários dos irmãos
mais velhos dos meus vizinhos ou dos amigos de minha idade, e, por ficar bem
pertinho de minha casa, que era na Vila Yolanda, eu batia cartão quase todos os
domingos lá no campo do XI, onde costumava ficar sentado no barranco que ficava
atrás do gol aos fundos da atual Escola Estadual Deputado Guilherme de Oliveira
Gomes, situada à Rua Hipólito da Costa. Desta “arquibancada”, lugar privilegiadíssimo,
presencei jogos memoráveis e vi atuar usando o uniforme amarelo e preto do XI
de Junho, por exemplo, o meio-campista Peres, campeão brasileiro de 1977, autor
de um gol na decisão por pênaltis no enlameado estádio Mineirão, para o São
Paulo, contra o Atlético Mineiro, decisão que ficaria marcada, ainda, pela
fatídica entrada do bom e já falecido meio campista tricolor, o querido Chicão,
lance tão duro que partiu ao meio as pernas do oponente do Galo, Ângelo.
Em um destes alegres domingos, o XI de Junho promoveria um badalado
festival, ocasião em que bons times de várias localidades se defrontariam e, ao
final de cada embate, o vencedor levantaria um troféu. Esta modalidade de
disputa amadora até hoje está em voga; mas dependendo do número de
participantes, a tabela, àquela época, às vezes ficava muito extensa. Assim,
para que todas as partidas ocorressem ainda com luz natural, já que campos de
várzea raramente possuíam iluminação artificial há quarenta anos, o tempo delas
poderia ser reduzido, chegando ao máximo de 35 minutos por etapa. Em caso de
empate, ocorria, como ainda hoje, decisão por pênaltis. Naquele dia no jardim
Cipava, o “Cascudão” (era assim que se chamavam os segundos quadros, ou seja, a
formação tecnicamente inferior entre as duas de uma mesma equipe) abriria as
disputas, estreando uniforme novo, às 9 horas. Acordei tarde, engoli um pedaço
de bolo e um pão com manteiga, acompanhados por café com leite, sai voando.
Cheguei com a bola já rolando, não me lembro contra qual adversário, mas o XI
de Junho ganhou por 2x0 e consegui chegar a tempo de ver ambos os gols.
O duelo do primeiro quadro, pela ordem, seria
o último, ou seja, a final do dia. No papel, os oponentes deveriam estar dentro
das quatro linhas, prontos para o pontapé inicial, às 16h15. Atrasos,
entretanto, eram inevitáveis, já que, não raro, várias decisões morriam na
marca da cal devido ao equilíbrio técnico entre os candidatos ao troféu, pois apenas
timaços eram convidados pelos organizadores. Balão subindo, balão descendo,
balão para o mato, balão para o quintal das casas contíguas, por volta do
meio-dia meu estômago começou a tocar jazz, tango, rumba, moda de viola, tudo
junto e misturado. À beira do campo enxergava vendedores de cachorro-quente, de
pipocas, no entorno botequins ofereciam a chance de fazer uma boquinha, pedir
pastel, salsicha no palito, coxinha, torresmo, mais para os lados da Vila dos
Artistas havia padaria. Mas além de
duro, eu estava tão ligado nas partidas que praticamente ignorava aquele samba do
crioulo doido e famélico. Com o passar das horas, porém, o zabumba bumba
esquisito tornar-se-ia cada vez mais agudo. Contrariado, conclui: seria melhor
voltar para casa, bater um rango e regressar o mais breve possível -- o que
significava ter de convencer minha mãe a, novamente, ausentar-me, embora, desta
vez, devidamente alimentado. Quando já começava a descer o barranco, avistei
meu pai chegando à ponta da rua, do outro lado do campo, pedalando uma das
muitas bicicletas antigas que ele montava e desmontava.
Preparei-me para a bronca, já lamentando ter
de perder o resto do festival e o jogo do primeiro quadro do XI de Junho, pois,
na certa, ele estaria indo até lá para me dar um pito e ordenar minha imediata
volta. Enganei-me, no entanto, e que bom
ter me equivocado! Quando me alcançou, sorridente, o velho perguntou-me quem
estava jogando e quem ganhava estendendo-me um pequeno embrulho, tirado de um embornal
feito de uma velha calça jeans que ele carregava para baixo e para cima. Ao
abrir o pano de prato, que ainda guardava a temperatura do que embalava e um
delicioso e familiar cheiro, dentro de um saco de papel daqueles pardos de
padaria e de mercados, eu encontrei dois pães franceses com ovos mexidos em
molho de tomate com cebola bem picadinha. Havia também neste frugal farnel duas
laranjas, descascadas, com as tampas cortadas, sem machucados, intactas,
prontas para chupar, mais um generoso naco de queijo com goiabada. Em uma
garrafinha de plástico, minha mãe mandara, ainda, tubaína, bem geladinha. Antes
de subir na magrela e se retirar, meu pai entregou-me, para o caso de esfriar, o
meu único agasalho -- uma surrada jaqueta de nylon vermelha que tinha um
emblema de escuderia de F1 sobre um dos bolsos, mais algumas moedas.
De volta ao meu lugar cativo no
barranco, saboreei o primeiro lanche e metade do refrigerante mastigando e
bebericando bem devagar, curtindo cada pedacinho daquela delícia, aproveitando
o intervalo da partida que rolava na hora da merenda. Contei as moedas: vi que seria
possível comprar picolé e ainda, mais tarde, um pacote de pipocas, estouradas
na hora. Saciado, feliz pela generosidade de minha mãe e pelo esforço de meu
pai, bastava esperar o momento de o primeiro quadro do XI de Junho entrar para o
embate, trajado de camisa com gola careca e calções negros, com faixa vertical
amarela por trás do distintivo, de acordo com as descrições de como seria o
fardamento a ser estreado naquela tarde.
Perto da hora do jogo, começou a soprar
repentinamente um vento meio frio. Embora ainda houvesse sol o suficiente para
manter-me aquecido, resolvi vestir a jaqueta. Ela era um pouco larga, e
comprida, de forma que, sentado, pude puxá-la até a altura dos joelhos, prolongando
a proteção para as minhas coxas. Cheiro de bacon sendo frito para adicionar à nova
panela de pipocas que logo mais seriam estouradas ganhou o ar. A charanga do XI
de Junho chegou, animando o ambiente com uma ruidosa batucada e marchinhas de
incentivo ao time. Um casal de idosos, trazendo um vira-lata puxado por uma
corrente, também se acomodou no barranco a esta altura já apinhado, ambos enrolados
em uma bandeira preta e amarela que ela costurara. O cachorro me olhou com
simpatia, abanou o rabo e latiu, duas vezes. O dono do cão, então, dirigiu-se a
mim todo prosa: “O Tupi dá sorte para o primeiro do XI, o time jamais perdeu
quando o trouxemos em outras ocasiões”.
Pouco tempo depois, em meio às
comemorações por mais um troféu que ficaria no jardim Cipava, lá estava o bicho
dando a volta olímpica misturado aos torcedores, aos jogadores, e à charanga,
latindo sem parar, saltitante, promovendo uma gostosa algazarra. Minha barriga,
novamente, repicava no ritmo de um reco-reco afinado como se fosse cuíca. Abandonei
o cordão e, sentado, comi a parte restante das pipocas que havia sobrado no
saquinho e que não dividira com o Tupi durante o jogo. O segundo pão com ovos
mexidos saciou-me por inteiro. De reserva eu ainda tinha aquele “Romeu e
Julieta”, que, no entanto, ficaria para depois do jantar.
Eu estava bem feliz, mas para o domingo terminar
completo, faltava saber o placar do clássico que envolvia o Corinthians.
Atravessava a pinguela sobre o córrego João Alves a caminho de minha casa
quando cruzei com um senhor que levava um rádio de pilhas grudado ao ouvido esquerdo.
“Quanto está o jogo, tio?”, perguntei. “Um a zero Timão, gol do [Geraldão]
Manteiga”, respondeu, erguendo o polegar da mão direita, placar que perdurou
até o derradeiro apito do árbitro Pantera-Cor-de-Rosa encerrando mais um
Majestoso travado no Cícero Pompeu de Toledo.
Um comentário:
O PT & seus satélites só sabem repetir frasinhas publicitárias para fazer a cabeça de leitores. Veja abaixo FRASES decoradas do Petismo.
São frases sem sentido nenhum. Elas não significam o que desejam significar, pois são introduzidas no MEIO DE FRASES PETISTAS apenas de maneira decorada e à toa, sem nenhuma VERDADE ou EFEITO. Repare:
O PETISMO e seus dogmas em frases nonsense, ou seja, sem sentido nenhum, -- a saber:
«velha mídia»; «casa grande e senzala»; «é gópi, é gópi, é gópi»; «ilegítimo [Temer]»; «midiota»; «LUZ para todos»; «20 milhões na classe média»; «fascista»; «sem crime de responsabilidade»; «Pronatec»; «coxinha»; ; «mídia hegemônica» [espécie de demoninho ou capetinha muito danoso a minha religião]; «Rede Globo é golpista»; «PiG»; «Estados Unidos, o Império»; «mídia golpista» etc. etc. etc. etc.
— essas são todas as FRASINHAS DECORADAS do PT e seus simpatizantes, consideradas por eles coisa de "GENTE INTELIGENTE", mas na realidade são frases à toa, vazias de sentido, fracas, choradeira, sem argumento, oba-oba, verdadeiros mimimi. Sempre introduzidas em TUDO, tudo que petista fala e escreve, mas à toa mesmo no meio de frases.
Principalmente, eles gostam muito de REDE GLOBO (à toa mesmo!), e da frasinha sem sentido nenhum, VELHA MÍDIA. Observem!
Fiquem atentos e de OlhOs bem abertos.
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