Ano novo, piada velha... O que esperar de um tempo arbitrariamente limitado e que já nasce sendo responsabilizado pelas alegrias ou tristezas dos homens?
-- Que 88 te traga muita saúde, meu chapa! Que você compre seu carro novo...
-- Que droga de ano, este! Nada do que fiz, até agora, deu certo...
Como será 88 sem a poesia de Drummond? Será que um outro Carlos vai ser ungido “gauche” por um anjo torto? Quem tornará o Brasil risível agora que a graúna voou para sempre? Surgirão outros? Teremos diretas? Corinthians campeão? Homens sérios que pensem nos destinos de quem dirigem?
Mas, enfim, é Ano Novo... E se os Estados Unidos invadirem a Nicarágua? E se a guerra de El Salvador matar mais 1 milhão? E se os palestinos continuarem sem terra? E se a UDR vencer sua guerra contra a reforma agrária? E se os aiatolás resolverem explodir o Golfo Pérsico? E se os Estados Unidos e a União Soviética se fizerem ainda mais convenientes? E se a ONU der a benção?
Os fogos, contudo, anunciam a esperança geral... E se a PM matar mais Adãos ou Pixotes? E se a Aids escapar de vez dos grupos de riscos? E se a classe média atarantada continuar descarregando seus ódios em negros, homossexuais, índios, idosos, menores abandonados e outros que, por serem diferentes, parecem ameaçá-la? E se a inflação atingir 800? E se a música acabar? E se você continuar me faltando?
O mundo não deixará de seguir seu curso, a camada de ozônio não se reestruturará e nem a Terra deixara de girar em torno do Sol só porque é 1988. Na certa, viveremos mais 365 dias em que muitos, por falta de uma palavra amiga, apertarão o gatilho contra a própria têmpora... Mas é preciso ter esperança. Melhor ainda: é preciso ter fantasia. Ela é a única força capaz de nos distinguir daqueles que já não amam, não perdoam, não sonham...
Então, que 1988, já tão devedor para os homens, agüente firme todos os solavancos que nós causarmos. Se a paz não surgir de fato, que pelo menos cada um liberte a criança/fantasia que hiberna em seu interior. Pode ser que, um dia, um garoto grite a manchete de um mundo novo nua rua qualquer...
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