Durante a viagem
Sim, era só uma garotinha, ainda. Catorze, talvez, no máximo, quinze anitos. E o que posso fazer se estas coisas bolem na/com a gente? Sem contar que, embora comportadíssima, ela estava mais do que com as manguinhas de fora, deixando aparecer a barriguinha morena, a cintura delicadamente entalhada, ah, o umbigo. E o rabinho de cavalo -- mulheres com rabo de cavalo me deixam maluco --, o pescoçinho? É como estar passando pela rua e avistar da calçada, dentro do quintal bem murado e guardado por um cão feroz, a fruta que você prefere já quase ao ponto de ser saboreada: a fome não bate na hora, mano? Queria olhar mais bestialmente, ah, queria, mas encrenca, e ai, culpa: a Carmem, que trabalha com minha esposa e eu ainda não havia identificado, estava bem ao lado da ninfeta e poderia ganhar o lance, entregar-me à patroa e ai eu estaria ferrado. O Júlio César diria que cometi pecado capaz de me lançar direto aos tachos do inferno e envergonhar o Coisa Ruim só porque tenho aliança no dedo e barba na cara; mas, ah, véio, espera ai que eu vá me ajoelhar no milho e pedir perdão por isso, só espera! Veja bem, para mim, a culpa é de Deus! Foi Ele quem me dotou de libido e faz correr em minhas veias, embora até há pouco cruelmente sublimadas, estas energias de macho. Por conta da fisiologia, isto é, da natureza pura e simples, meu estremecimento da cabeça aos pés, reforçado pelo entumescimento, durou o resto da viagem. E só arrefeceu quando desci do ônibus (no mesmo ponto no qual a Carmem que, álias, nem me viu!) pisoteado pelo impacto na calçada do pé direito introduzindo-me de novo na realidade.
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