Horas mortas
Nas horas mortas em que tudo some, sinto-me consumido e nem mesmo me interessaria em colher flores se um jardim tivesse. Nestas horas mortas rezo para que minha Rosa me evite, pois um homem em mim não encontraria. Nas horas mórbidas desanimado mais pareço amante abandonado após pedir o divórcio, carro sem motor enferrujando no tempo, zumbi: amordaçado pela abulia, nem sequer tenho dó do cão que me olha esfomeado. Posso lembrar uma murcha embalagem de picolé vazia, jogada ao chão, desolada e ensimesmada. Ou uma ponta de cigarro amassada, sem marca e sem alma. Não sinto os nervos nos meus mortos momentos. Como um poema desconexo, sou, enfim, uma pátria pálida. Uma bandeira sem matizes e em andrajos, carnaval descolorado de tamborins emudecidos. E computador desconfigurado aos quais nem mesmo um par de maviosos azuis olhos é capaz de dar ritmo, ou reprogramar. Decretem morte às horas mortas: desexilem-me de mim!
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