quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

Barulho d´água (O grito)

O grito

O rosto desesperado e estampado no jornal

deixou um grito parado no ar,

dilacerado, cortante, dolorido,

esbofeteando nossa cotidiana covardia:

de jardim, o bairro não tem nada,

de Ângela, só nome.

Naquele lugar pior que Cali,

onde nem político vai,

o que mais se reivindica não é asfalto,

não é ônibus, nem pronto-socorro --

Embora tudo isto falte, prioridade é continuar vivo,

é não morrer de bala bem endereçada ou perdida mesmo,

de tédio ou de medo,

não ficar jogado na sarjeta como se fosse esgoto.

O Jardim Ângela não é carioca,

não está nos mapas do JN e dos investimentos sociais,

mas está no das estatísticas e no da vergonha,

não deve ter orgulho nenhum de pautar reportagens,

e muito menos por estar nesta poesia.

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Três ou mais linhas de prosa... e de poesia


O velho lago
mergulha a rã--
barulho d´água.

Este blog, cujo nome deriva do haicai de Matsuo Bashô, tem por objetivo a divulgação de crônicas e outros gêneros literários de minha autoria -- consulte também
http://www.poesiafeitaemcasa.blogspot.com e http://www.karumi.nafoto.net, outros trabalhos que assino. A cópia e reprodução dos elementos aqui contidos sem a devida autorização, por escrito, e sem estarem negociados direitos autorais e outras questões comerciais, sujeitarão o infrator a entendimentos com a lei.

Marcelino Lima



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