O grito
O rosto desesperado e estampado no jornal
deixou um grito parado no ar,
dilacerado, cortante, dolorido,
esbofeteando nossa cotidiana covardia:
de jardim, o bairro não tem nada,
de Ângela, só nome.
Naquele lugar pior que Cali,
onde nem político vai,
o que mais se reivindica não é asfalto,
não é ônibus, nem pronto-socorro --
Embora tudo isto falte, prioridade é continuar vivo,
é não morrer de bala bem endereçada ou perdida mesmo,
de tédio ou de medo,
não ficar jogado na sarjeta como se fosse esgoto.
O Jardim Ângela não é carioca,
não está nos mapas do JN e dos investimentos sociais,
mas está no das estatísticas e no da vergonha,
não deve ter orgulho nenhum de pautar reportagens,
e muito menos por estar nesta poesia.
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