sexta-feira, 29 de março de 2013

Barulho d'água (Sem-ônibus)

Sem-ônibus
 
Frete para o Norte de Minas, caminhão enguiçado à beira da estrada, em ponto remoto e ermo, ainda bem distante do destino. O caminhoneiro resolve caminhar em busca de ajuda. Um deserto só, por quilômetros não se vê nem sequer vacas pastando nos morros ao redor, o sol queima a ponto de fritar borracha. Quase trinta minutos depois, o motorista avista pequena igreja ao fim de íngreme subida de chão batido; antes, passara por um ponto de ônibus. Adentra a capela, um homem varre  preguiçosamente o salão. Cumprimenta-o, explica “quero chegar à cidade mais próxima, preciso de socorro mecânico”. E pergunta: “a que horas, por favor, passa por aqui um ônibus que me levaria até lá?”. Apoiado no cabo da vassoura, o sujeito clone do Mazzaropi coifa a barba, olha para o teto, e depois de alguns segundos, responde: “Isto não sei, não, senhor. Melhor perguntar lá no posto de gasolina!”. “Ah, um posto de gasolina, que bom! Pode ser que eu encontre ajuda nele, então! E onde fica este lugar, é aqui por perto, como eu chego lá?”, quer saber o viajante, animado com a notícia. Rebate o outro, do mesmo modo sereno de linhas acima: “Não, não, senhor. O posto do Turco fica na cidade mesmo, onde mais ficaria por estas bandas? E para chegar lá é só o senhor descer a rua e esperar o ônibus passar pelo ponto, uai!”.

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Três ou mais linhas de prosa... e de poesia


O velho lago
mergulha a rã--
barulho d´água.

Este blog, cujo nome deriva do haicai de Matsuo Bashô, tem por objetivo a divulgação de crônicas e outros gêneros literários de minha autoria -- consulte também
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Marcelino Lima



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