Rumba
A poesia tocou minha campainha numa fria manhã de domingo. Atendi, ainda de pijama. Já dentro de casa, ela, louca, quis dançar rumba comigo. Contei que não sabia os passos e que, por ainda estar sonado, não seria par perfeito para tal divertimento. Deu, então, um riso estrondoso, daqueles que toda a vizinhança cai da cama, e, entre me caçoando e me advertindo, com as mãos à cintura, olhando-me fixamente, explicou-me que para bailar não é preciso leveza, a não ser a d'alma, basta ter imaginação e soltar-se que a ginga incorpora no corpo que nem santo quando baixa em terreiro. Percebendo minha insegurança, afirmou que tudo bem: sairia assim que eu servisse a ela uma xícara de chá de frutas silvestres. Deixaria um diagrama com alguns toques básicos, e, como quem faz uma ameaça, jurou, dedo em riste: retornaria no domingo posterior, esperando que eu tivesse aprendido, ao menos, a ter autoconfiança, pois o disco ela mesmo traria. Servi a infusão, com três pingos de aspartame, como ela havia exigido, acompanhada por duas bolachas integrais, com quase nada de geléia de morango que eu comprara uma semana antes em Monte Verde -- "preciso manter este corpito de bailarina espanhola, cabrón!", falou-me toda carmem de sol, assim, lânguida. De fato, como prometera, vazou em seguida. Eu juro, não estava sonhando. Hoje já é sábado, novamente. E eu ainda não estudei a lição....
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