terça-feira, 27 de novembro de 2007

Barulho d´água (Três Marias)

Três Marias
Três Marias, iguais em tudo, e ao mesmo tempo tão únicas. A Maria vaidosa, de olhos arregalados, sempre atentos, lambusada de batom cobrindo os lábios carnudos pendurava nos pulsos uma profusão de pulseiras, descolava um andar malicioso de quem queria encontrar uma paquera legal mesmo quando ia à padaria. E a Maria chorona, sempre a ralhar contra as mazelas da vida?
-- O que que há, dona Maria, onde dói?
Doia-lhe tudo. A infância sob rabo de tatu, o casamento infeliz, os filhos natimortos, e os filhos vivos que já tinham nela uma mariamorta. Tem ainda a Maria casadoira, típica moça debruçada no batente da janela, mas que já desistiu de ter um príncipe encantado, e que está a espera dela
nalgum canto do mundo. Hoje apenas vive seus dias, já não mais sonha, não lamenta mais o passado. Espera por amparo praticando sua inesgotável bondade, às vezes com incrível azedume. Três Marias, iguais em tudo. Iguais a tantas outras, e ao mesmo tempo, tão únicas.
-- O que fazes ai, debruçada à janela, Maria: apenas vês o tempo passar?
-- Não, vejo passar a boiada enquanto sirvo de moldura para o retratista que passeia por estas empoeiradas bandas ...

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Três ou mais linhas de prosa... e de poesia


O velho lago
mergulha a rã--
barulho d´água.

Este blog, cujo nome deriva do haicai de Matsuo Bashô, tem por objetivo a divulgação de crônicas e outros gêneros literários de minha autoria -- consulte também
http://www.poesiafeitaemcasa.blogspot.com e http://www.karumi.nafoto.net, outros trabalhos que assino. A cópia e reprodução dos elementos aqui contidos sem a devida autorização, por escrito, e sem estarem negociados direitos autorais e outras questões comerciais, sujeitarão o infrator a entendimentos com a lei.

Marcelino Lima



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