terça-feira, 20 de novembro de 2007

Barulho d´água (A batalha desconhecida)

A batalha desconhecida


A mais sangrenta e espetacular batalha entre índios e exército do período de expansão norte-americana rumo ao oeste não está registrada na memória do povo, nem nos livros de história. Se o gato Marshall, única testemunha ocular do combate pudesse contar o que viu, diretores de cinema teriam diante de si um prato cheio para filmar uma daquelas tramas imbatíveis, tanto em bilheteria quanto na Academia. George Lucas, por exemplo, teria deixado de lado a saga Star War preferindo escrever à respeito se ao menos imaginasse o que passou naquele fim de mundo inóspito, uma porção do deserto onde sequer os cactus sobrevivem, as caveiras imploram por uma sombra e os escorpiões se engalfinham por um buraco nas escaldantes areias ou debaixo de uma pedra, matando-se uns aos outros até por uma pena de abutre que caia durante o vôo da agourenta ave. Oito caras-pálidas e oito peles-vermelhas duelaram até a última bala ou flecha durante várias luas pela posse de um estratégico forte. Alguns soldados tombaram, entre os apaches também houve baixas. Eles, no entanto, deveriam carregar nos cantis algo mais do que água, pois, após alguns goles, logo todos estavam novamente em pé, prontos para retomar a briga por um arco, por um escalpo ou uma provisão qualquer (ouro, inclusive). O mais interessante do duelo é que ele terminou sem vencedores. Depois de tanto pau, os protagonistas voltaram para a mala de onde saíram satisfeitos, embora trocando provocações e prometendo se pegarem novamente depois da aula do menino. Dois de cada time e seus respectivos cavalos levaram a trégua ainda mais longe: resolveram acompanhar o guri à escola. Lá conheceram outros garotos, aprenderam a formar sílabas, um pouco de adição e de subtração, ajudaram a pintar desenhos, e, ainda, ouviram sobre as traquinagens de Prático, Cícero e Heitor narradas por tia Vera durante a sessão de leitura.

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Três ou mais linhas de prosa... e de poesia


O velho lago
mergulha a rã--
barulho d´água.

Este blog, cujo nome deriva do haicai de Matsuo Bashô, tem por objetivo a divulgação de crônicas e outros gêneros literários de minha autoria -- consulte também
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Marcelino Lima



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