Uma blusa dela
esquecida no sofá --
dançamos por horas.
Microondas
O moço da televisão vive pedindo para que a gente escreva contando para ele qual é o nosso sonho que o programa pode até dar jeito. Mas as coisinhas assim do meu desejo, ah, duvido: eles não atendem, não. O que eu espero é ter cozinha com microondas, avental com figuras de galo, galinhas e a pintaiada ciscando pelo terreiro. Cristaleira de madeira envernizada, marrom bem forte, de quatro gavetas, três prateleiras no vão central, as portas de vidros retangulares, na sala do meio. Lustre que imitasse lampião para iluminar a de prosear e de ver o mundo. Cadeira de estofo confortável na varanda, na qual o gato pudesse pestanejar ao sol, ao cair da tarde, depois da farra com os passarinhos, e, aos domingos, eu pudesse descascar e chupar quantas mexericas quisesse. No reservado nem careceria banheira se o chuveiro assegurasse um banho relaxante e a temperatura que não maculasse a pele, torneiras no lavatório lapidadas à mão, em estilo ouro antigo. Ah, uma cômoda! Com espelho ovalado, em corpo inteiro, na mesma imbuia da cristaleira, com repartições suficientes para brincos, relógios, pulseiras e demais adereços, os produtos de maquiar. Um vaso de barro para crisântemos, ali, ali, outros menores, para pequenas flores, dispostos em cantoneiras e estruturas de armação de ferro, das mais bonitas. E se não fosse pedir demais um bom homem, que não resmungasse quando eu pedisse para ele apanhar meus chinelos, coçar minhas costas, subitamente, de madrugada, ao som de música barroca...
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