quarta-feira, 14 de novembro de 2007

Barulho d´água (Palito de fósforo)

Palito de fósforo
Ao passar pelo 13o.andar, como tudo ainda estava muito bem até aquela altura, renovaram-se minhas esperanças de que um milagre deteria minha queda livre, salvando-me de estourar no chão feito um tomate podre. O Homem-Aranha talvez surgisse do nada, dependurado por uma teia. Ou eu me lembraria a tempo de algum truque capaz de me virar em pássaro. Quem sabe alguém não estenderia bem na hora fatal uma rede ou uma cama de elástico, sei lá, aparecesse com uma tina d’água, iguais àquelas que a gente vê em comédias dos Três Patetas ou em desenhos animados? Lógico: havia também a possibilidade de ser um pesadelo. Entretanto, pelo sexto andar, o filme da minha vida começou a passar por minha cabeça, Ai, chapa, aceitei o fim. Como um condenado diante do pelotão de fuzilamento, resolvi fumar o último cigarro. Alcancei a caixa de fósforos no bolso da calça e risquei o palito. A chama logo se apagou, para meu espanto. Amaldiçoei o desgraçado do fabricante até a última geração dele, jurando a mim mesmo: caso não morresse a primeira coisa que faria seria processá-lo por praticar crime contra a economia popular, colocando no mercado um artigo de tão baixa qualidade.

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Três ou mais linhas de prosa... e de poesia


O velho lago
mergulha a rã--
barulho d´água.

Este blog, cujo nome deriva do haicai de Matsuo Bashô, tem por objetivo a divulgação de crônicas e outros gêneros literários de minha autoria -- consulte também
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Marcelino Lima



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