quarta-feira, 14 de novembro de 2007

Barulho d´água (Delfino Cerqueira/Corvinas)

Delfino Cerqueira
Até o cavalo branco que anda às tontas pela vizinhança parou para ver a chegada da geladeira nova, entregue por um caminhão das Casas Bahia, quebrando a rotina das manhãs de sábado na pacata rua Delfino Cerqueira.
Corvinas
-- Corvina boa, corvina graúda, corvina fresca!
As corvinas do ”seo” Eurico eram realmente campeãs. Apresentavam aquela cor chumbo-azulada de peixe recém pescado, conservavam nas escamas o frescor da água do rio. E como sabia minha mãe acentuar o sabor daqueles cianídeos! Mãos milagrosas que não apenas caprichavam ao temperá-los ou ensopá-los, mas, tinham o dom de multiplicar, fazendo com que apenas um deles rendesse o necessário para, à satisfação, alimentar toda a família, deixando num ponto remoto da língua este imperecível gosto que sequer o tempo elimina...
Um grande coração
Fuzilaram-me quatro vezes ontem. Em todas, antes de dispararem, pediram para que não respirasse. Mas, valeu a pena ter sentido na pele a horrível sensação do paredão. As radiografias revelaram só boas noticias: os anos de tabagista não deixaram seqüelas, a escoliose é leve, quase imperceptível, e, apesar de eu ser um tiquinho ranzinza, possuo um grande coração...

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Três ou mais linhas de prosa... e de poesia


O velho lago
mergulha a rã--
barulho d´água.

Este blog, cujo nome deriva do haicai de Matsuo Bashô, tem por objetivo a divulgação de crônicas e outros gêneros literários de minha autoria -- consulte também
http://www.poesiafeitaemcasa.blogspot.com e http://www.karumi.nafoto.net, outros trabalhos que assino. A cópia e reprodução dos elementos aqui contidos sem a devida autorização, por escrito, e sem estarem negociados direitos autorais e outras questões comerciais, sujeitarão o infrator a entendimentos com a lei.

Marcelino Lima



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