Chacára
A velha senhora que acenava triste debruçada no batente da janela chorando a despedida e mostrando o peito de seios magros há muito ficou para trás da curva do moinho. Seguindo em frente foram se abrindo as porteiras para a grande estrada. Na bagagem trazia-se cana, queijos e doces, broas e sabão de cinzas, panos rotos, pedaços de camisas , sacos de farinha puídos, toscas toalhas para secar o rosto após o banho de gato à margem do regato ao pé do cemitério de poucas e brancas cruzes. A casa de pau a pique resistiu heróica, valente, como fora outrora a aposentada jardineira azul -- agora uma moldura no imaginário -- que tantos morros cortou, sobe e desce, sobe e desce quilômetros a fio engasgando com a vermelha poeira do sertão, simbolo de uma era já superada pelo asfalto e por parabólicas que trazem imagens longínquas, matando a hora do terço, o tempo de colher laranjas. O bambuzal, outro remanescente, permanece intacto, estala fazendo duo com o canto da siriema. Com um pouco de sorte, ainda pode-se pegar um bicho-de-pé. Mas é preciso ser rápido: o esquecimento é veloz como Pentium e as lembranças fugazes como sábia que pousa em mourão..
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