quinta-feira, 15 de novembro de 2007

Barulho d´água (Noite estrelada/Cotia-Km 30/Garrincha e a moça)

Noite estrelada
Ao abaixar-se para apanhar a mercadoria na prateleira de uma loja de departamentos, deixou escapar pelo cós do jeans uma das luas estampadas na calcinha. O resto da noite não foi visto, mas, principalmente, as estrelas brilharam nos olhos do único espectador que flagrou o lance...
Cotia- km 30
O Cotia-KM 30 subia a Inocêncio Seráfico tão lenta, mas tão lentamente, que o vira-lata se deu ao luxo de parar, ficar lá, coçando-se inteiro, sem pressa, no meio do asfalto. Aguardando no verde, o semáforo também não perdeu a chance: deu um longo, arrastado bocejo...
Garrincha e a moça
Colho, em meio à multidão, um par de pernas de estranha geometria. Na região das batatas, arqueadas para dentro, na das coxas, para fora. Apesar da aparente desconexão, uma poesia. Rimas perfeitas sobre fuselagem talhada a cinzel. Neruda talvez dissesse se tratar de uma Guernica -- pintura com certa dose de sofrimento de se ver, mas de beleza tão singular que até o mais exigente dos anatomistas diria ah, como Deus escreve certo por pernas tortas! Se por acaso a moça bate bola, arrisco, é melhor que Garrincha, ou ele voltou de saias. Aliás, diante dela, talvez ele não passaria de Mané, ou, se tanto, um joão
!

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Três ou mais linhas de prosa... e de poesia


O velho lago
mergulha a rã--
barulho d´água.

Este blog, cujo nome deriva do haicai de Matsuo Bashô, tem por objetivo a divulgação de crônicas e outros gêneros literários de minha autoria -- consulte também
http://www.poesiafeitaemcasa.blogspot.com e http://www.karumi.nafoto.net, outros trabalhos que assino. A cópia e reprodução dos elementos aqui contidos sem a devida autorização, por escrito, e sem estarem negociados direitos autorais e outras questões comerciais, sujeitarão o infrator a entendimentos com a lei.

Marcelino Lima



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