Mercado Municipal
O silêncio subitamente tomou
conta do Mercado Municipal. Ninguém combinara, não houve acordos neste sentido,
muito menos simulação ou treino, mas com uma perfeição de orquestra filarmônica
bem afinadinha, como se tudo estivesse organizado, de repente nada mais era
dito, nem um som ouvido. Nem uma mosca parecia zunir. E olha que era dia de
peixe fresco, quando a muvuca aumenta e, em consequência, o burburinho sobe na
escala dos decibéis a ponto de ouvidos e porcelanas quase se trincarem. Talvez
apurando bem a audição até pudesse ter sido possível captar o estalar dos
grampos de aço se desprendendo voluntariamente das emendas das caixas de
frutas, o croc-croc de uma larva mastigando uma folha de alface, o sussurrar
dos sacos de feijão, o assovio malicioso de um cravo para uma rosa e outros
barulhinhos e ruídos sequer suspeitados, mas que ocorrem ali, em universos menores
e particulares, todo santo dia.
O hiato, entretanto, durou apenas alguns
segundos. Antes mesmo que alguém que estivesse a contar chegasse a cinco, o tonitruar
das centenas de vozes misturado ao trança-trança pelos corredores reeclodiu, inundando
o tempo e o espaço entre os boxes como sempre, enchendo de novo o ambiente de
zoada. A luz do sol, naquele instante, vazava os vitrais e projetava belos
afrescos num dos lados do Mercado. No ar, ao invés da repentina quietude, ficaram
aromas como o de um pastel de banana com canela sendo frito.
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