sexta-feira, 16 de novembro de 2007

Barulho d´água (Batom a passarinho)

Batom a passarinho
"Atrás de cada curva,
há uma vida a pulsar,
há um sentimento a arder".
Tive sorte de encontrar essa poesia em minha agenda para oferecê-la a você. Creio, porém, que tive ainda mais sorte de ter te reencontrado e, contigo, ter relembrado o tempo em que fazíamos teatro da vida. Confesso que o reencontro, embalado por cervej­as e planos futuros, atiçou meu coração de poeta, nesses tempos de solidão inseparável/insuperável.
A brincadeira era antiga e você a percebeu. Mas fiquei ainda mais apaixonado quando o seu dedo, molhado em seu batom, roçou os meus lábios, tocou-me língua e alma. Um gesto gratuito, ainda que fosse um ato de malícia à minha maliciosa intenção de provar o cosmético num duradouro beijo. Neste instante, desejei que aquela noite fosse eterna. E que, no brilho do seu olhar, minha intenção esti­vesse sendo traduzida por um sim.
Não pude deixar de perceber também as linhas suaves de seu corpo feminino. Em determinados instantes, quando nossas palavras ficaram mais próximas da fonte, imaginei como seria a sua reação ao meu toque. Talvez ela fosse menos desastrada e denunciadora do que a minha quando fiz questão de não controlar minha vibração assim que você examinou o meu brinco. É, eu não poderia disfarçar. Era o meu pedido para que esticássemos a noite.
O que eu jamais poderia imaginar, porém, era que a noite terminasse daquela forma. Zonzo de bebida, mal conseguia ajustar meu relógio no alarme de um em um minuto, para que você se deliciasse com a música. O clima agora era perfeito! Dois seres querendo vencer a solidão (ou seria falta de companhia?), duas almas enlevecidas de cerveja, dois corpos próximos do abraço, um homem e uma mulher que haviam confessado carências numa mesa de bar... Estava tudo de acordo, duas meias-noites, inclusive. Bastava liberar os desejos contidos/reprimidos... e entregar-se duas horas depois à espontaneidade de estar comendo frango a passarinho, às duas horas da madrugada, à três, numa praça qualquer desta cidade sem amor. O frango não estava nos (meus) planos, o amigo que nos deu a carona, muito menos. Mas eu queria repartir algo contigo e, por isso, me sentia bem. Fui para minha casa/cama lembrando-me daquelas cenas, busc­ando nos lábios engordurados o último sabor de seu batom. E, desde então, estou na expectativa de voltar a comer frango a passarinho com você. Só que, natu­ralmente, e, naturalmente, a sós, com direito a champanha, tim-tim...

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Três ou mais linhas de prosa... e de poesia


O velho lago
mergulha a rã--
barulho d´água.

Este blog, cujo nome deriva do haicai de Matsuo Bashô, tem por objetivo a divulgação de crônicas e outros gêneros literários de minha autoria -- consulte também
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Marcelino Lima



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